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Lenda de Santa Iria
  • A LENDA DE SANTA IRIA

    Nas imediações de Tomar, havia um lugarejo chamado ‘Magueixa'. Neste local viviam Ermígio e sua mulher Eugénia Magueixa, assim conhecida por ter nascido naquele pequeno lugar.

    Depois de muito trabalhar e economizar, juntaram uma boa quantia, que fora utilizada para construção de sua casa, que ficou conhecida como ‘Torre da Magueixa', em lembrança ao nome de Eugénia.

    Tempos depois, naquela mesma casa, nasceu uma menina a quem seus pais puseram o nome de ‘Iria'.

    Passaram-se os anos de infância de Iria, quando, um dia, seus pais mandaram-na para um ‘recolhimento' em uma terra chamada Nabância, atualmente a cidade de Tomar. Neste local viviam duas irmãs de seu pai, Casta e Júlia e também Sélio, um outro tio de Iria que era Abade dos Religiosos de São Bento, o qual recomendou Iria a um santo monge chamado Remígio.Santa_Iria_-_site.jpg

    Pelo fato de Iria ser muito bondosa e caridosa e ter sempre mostrado muita fé, começou a ser notada pelos seus sentimentos cristãos.

    Naquele tempo, em Nabância, vivia Britaldo, o jovem filho do governador, que ao vê-la na Igreja de São Pedro, linda e formosa, se apaixonou, sendo essa paixão de tal maneira avassaladora, que fez com que o jovem fidalgo adoecesse.

    Iria, por inspiração divina, soube da doença do rapaz e da razão que a provocara, indo por caridade, foi visitá-lo e desenganá-lo de seus desejos de casar com ela.

    Britaldo, então desiludido, pediu a Iria que nunca se casasse e nem amasse a outro rapaz, coisa que ela prontamente prometeu, fazendo com que prontamente o jovem fidalgo começasse a se recuperar.

    Mas, o bom Monge Remígio, a cujos cuidados Iria havia sido entregue, começou a sentir-se apaixonado pela linda donzela e a tentá-la.

    A donzela obviamente não aceitou as tentações e o monge, irado pelo desprezo, começou a arquitetar uma vingança contra a doce e inocente Iria.

    A vingança consumou-se quando o monge, que era muito sábio, preparou uma beberagem com ervas que conhecia, que provocaram o inchaço do ventre da donzela, dando assim a aparência de uma falta muito grave para aquele tempo.

    Iria, que sem saber tomou a ‘tisana' de boa fé, em pouco tempo teve seu ventre inchado e quanto mais os dias corriam, mais ele se avolumava e sua fama de santa desaparecia, fazendo com que todos passassem a duvidar da pureza e das virtudes da jovem.

    Britaldo, o jovem filho do governador, ao saber o que constava e julgando que Iria descumprira sua promessa, jurou vingar-se e imediatamente ordenou a um dos familiares que a fosse matar.

    A morte de Iria se deu no dia 20 de Outubro de 653, sendo degolada quando, sempre pura e inocente, estava ajoelhada de mãos postas a rezar à beira do Rio Nabão, rio esse que passava junto ao convento onde estava. Seu corpo seguiu rio abaixo.

    No mesmo momento, Sélio, o Abade dos Religiosos de São Bento, também tio de Iria, por revelação de Deus, percebeu a trama de Remígio e conheceu o lugar onde estava o corpo da donzela.

    Nessa mesma hora, revelou tudo ao povo, que cheio de dó e reconhecendo a inocência e a pureza de Iria, deu graças a Deus e foi buscar em solene procissão, à baixa de Santarém, também chamada de Ribeira, o corpo de Iria.

    Alí, quando todos chegaram, deu-se o grande milagre de se abrirem as águas do Rio Tejo, da margem até o local onde se encontrava o corpo imaculado da santa, sobre um túmulo feito pelas mãos diáfanas dos anjos.

    Era o desejo de seus conterâneos levar o corpo de Santa Iria, mas ninguém o pode fazer. Por mais força que fizessem, ninguém o movia, apenas levaram para recordação, alguns cabelos e pedaços do tecido de sua blusa, que milagrosamente serviram para tratamento de cegos e aleijados no Convento de Santa Iria.

    Muitos milagres, segundo dizem, se devem a esta Santa, que séculos mais tarde, teve a visita de outra Santa, a Rainha Santa Isabel.

    Na torre, na terra que a viu nascer, ainda hoje existe uma capela de invocação à Santa Iria que, segundo a tradição oral, foi construída no mesmo lugar onde esteve edificada a casa onde ela nasceu.